O fogo das tapeçarias se alastrou com violência, incendiando também as cortinas que protegiam as memorias reprimidas de Soveliss. Dias escuros afogados em um passado repleto de sofrimento e solidão.
A cabeça do Tiefling girou embaralhando as lembranças e confundindo os sentidos; imagens turvas começaram a emergir, como se pintadas em um quadro branco, branco não, negro. Um quadro negro.
Uma lágrima salgada percorrera ligeiramente sua face e mergulhara silenciosamente no chão de pedras brancas, caindo próxima ao corpo de um draconato já sem vida.
Sombras ao seu lado sibilavam e sussurravam palavras incompreensíveis, zumbidos que aumentavam ainda mais sua confusão. Suas mãos tremulas largaram subitamente a pesada barra de ferro, liberando assim a corrente que até então mantinha o portão de Pedra Branca fechado, a protegendo contra os invasores sedentos de sangue.
O coração acelerado batia como um tambor feroz, digladiando contra sua consciência, mas não havia som, nem havia música, apenas um estampido surdo. Uma dor sem som, incomunicável.
Dezenas de tochas se acenderam em resposta na escuridão, avançando em marcha, acompanhadas pelo temível rugido de grandes bestas aladas famintas por ruína. Imponentes Dragões Cromáticos que mancharam de vermelho o belo castelo do extinto clã Barash.
Naquela noite de tormenta Soveliss assistiu os honrados Draconatos de Pedra Branca lutarem bravamente até o fim, e teve a certeza de que em seu peito algo se quebrou terrível e irreparavelmente.
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